Projeto visa melhoramento genético do tambaqui
Iniciativa é mais um passo rumo à certificação do produto que começa a ganhar mercado interno
Da Revista Sebrae Agronegócios
O peixe foi atração, em 2006, no festival gastronômico que mobiliza chefs da região
Um programa de melhoramento genético do tambaqui está dando os primeiros passos no Estado. Além do sabor, o tambaqui possui uma carne rica em ômega 3, gordura de baixa caloria que previne problemas cardiovasculares. Em 2006, o peixe foi atração no Cacoal Sabor, festival gastronômico que agita os chefs da região em busca das melhores receitas.
Mas, segundo o proprietário da Toldu’s, Delmar José Sepp, faz pouco tempo que o tambaqui “caiu” no gosto da clientela. Com 18 anos de experiência no ramo da alimentação, Sepp incluiu o tambaqui no cardápio do restaurante, mas sem muito sucesso. Ele conta que havia uma forte rejeição ao produto por parte dos clientes. “Antes, o peixe tinha gosto de terra, era um sabor forte e o pessoal reprovava”, lembra ele.
A mudança no paladar da carne do peixe está associada à criação do tambaqui em cativeiro, desenvolvida pelo projeto Piscicultura no Centro Sul de Rondônia, uma parceria do Sebrae, com o Banco da Amazônia, o Banco do Brasil, o governo do Estado, a Emater e quatro associações de piscicultores.
Um dos produtores rurais que aprenderam a arte de criar o tambaqui nos tanques e alimentá-los com rações especiais, livrando o peixe do sabor desagradável que afugentava os consumidores, foi o filho de imigrante japonês Megumi Yokoyama, conhecido como ‘seu’ Pedrinho. Ele é um dos beneficiados do projeto, que é desenvolvido em dez municípios de Rondônia, tais como Espigão do Oeste, Pimenta Bueno, Rolim de Moura, Nova Brasília e Alta Floresta D’Oeste.
A Piscigranja Boa Esperança, propriedade de ‘seu’ Pedrinho, é o maior produtor de peixes do município. Além de criar alevinos de boa matriz genética, beneficia milhares de quilos por semana de peixes engordados em outros criatórios da região. Cada etapa é cuidadosamente supervisionada pelo piscicultor. “O importante é ter sempre o produto a bom preço para manter o cliente”, costuma aconselhar.
Como tem pouco espaço em sua propriedade, ocupa-se principalmente da alevinagem para manter a qualidade genética. Assim, ele procurou criar uma rede de produtores que se estende até Ouro Preto do Oeste, a 200 quilômetros de Pimenta Bueno. Montar essas parcerias não foi fácil. “Custou muito para fazer os fazendeiros da região acreditarem que não é só gado que dá dinheiro”, conta ‘seu’ Pedrinho. Segundo ele, atualmente os fazendeiros são companheiros de trabalho. “Eu aprendo com os outros e eles, comigo”.
A experiência de criação em cativeiro de tambaqui e outros peixes regionais, apoiada pelo Sebrae, começou a ser implantada em 2003 com a participação de 102 produtores. Nesse ano, a produção do tambaqui em Rondônia cresceu 11%, o que equivale a cerca de 230 mil quilos de peixe a cada seis meses. Em um ano, foram criados cerca de 400 empregos diretos na cadeia produtiva da piscicultura.
O resultado animador fez com que o Sebrae encomendasse uma pesquisa para saber qual a aceitação da carne do tambaqui no mercado. Foram pesquisados consumidores em dez capitais e mais três cidades do interior de São Paulo. Para a alegria dos produtores, a conclusão foi a de que a procura pelo tambaqui é bem maior do que a oferta.
Passada a primeira fase de implantação, o projeto caminha para uma nova vertente. Os técnicos do Sebrae, Emater e Secretaria Estadual de Agricultura, da Produção e do Desenvolvimento Econômico e Social (Seapes) querem agora estudar o tambaqui com o objetivo de realizar o melhoramento genético da espécie. A pesquisa será desenvolvida ao longo desses próximos dois anos e ajudará no processo de certificação do tambaqui produzido em Rondônia.
Na primeira etapa do programa está a avaliação populacional do tambaqui para identificar as famílias que compõem os estoques de reprodutores nos dois maiores criadores de alevinos que abastecem a região centro-sul do Estado: a Piscigranja Boa Esperança e a Piscicultura Vale Verde. “Nos últimos anos, os programas de aqüicultura passaram a dar importância às avaliações genéticas”, observa o pesquisador e oceanólogo Danilo Pedro Streit Júnior. “Estudos envolvendo marcadores moleculares vêm sendo utilizados com sucesso na avaliação da diversidade genética dos estoques naturais e cultivados de várias espécies de peixes”, complementa.
O projeto teve início em agosto de 2005, com um diagnóstico realizado pela Emater, constatando a baixa sobrevivência (média de 50%), crescimento desigual, falta de padronização no ganho de peso e matrizes e reprodutores com grande possibilidade de consangüinidade. Dando continuidade em novembro de 2006, com a coleta de dados para a avaliação dos reprodutores com aparelhos de alta freqüência que faz a identificação por meio de um radar. “O rastreamento do peixe é importante na hora de promover o acasalamento em cativeiro com vistas ao melhoramento genético”, explica o especialista. Em verdade, o que busca evitar é a consangüinidade, o que pode provocar deformações genéticas.
Outra vantagem do melhoramento genético é não utilizar antibióticos, dioxinas e outras substâncias proibidas e que podem ser detectadas em exames. De acordo com o pesquisador, essas medidas são fundamentais para que o produtor brasileiro tenha chance de garantir seu espaço no mercado nacional e internacional. “É preciso atender às expectativas do mercado”, ensina ele. Após a coleta de material genético – em geral, as partes da nadadeira caudal – e a marcação dos peixes, eles são liberados em um tanque e mantidos separados dos demais reprodutores.
O material colhido é encaminhado para o Laboratório de Biologia Molecular da Universidade Estadual de Maringá (UEM/PR). Lá, o material é processado, quantificado e amplificado por meio da utilização da técnica de RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA). A técnica identifica a variabilidade genética dos reprodutores.
Serviço:
Agência Sebrae de Notícias